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O Guerreiro Silencioso | Filme medieval brutal altamente filosófico do diretor de Drive

O motivo de Mitologia Nórdica de Neil Gaiman vender feito água não é apenas por ser o autor de Sandman, mas porque se trata de algo que as pessoas amam demais, os Vikings! Tanto é que foi suave a ida de God of War para a mitologia nórdica. No entanto enquanto boa parte das histórias focam na ação, existem algumas que abraçam a profundidade desse universo. E eu fiquei completamente surpreso ao descobrir a pérola que é "O Guerreiro Silencioso", pois jamais imaginaria que fazia parte do gênero Espada e Feitiçaria, que é o que popularizou e faz tanta gente amar Conan. o Cimério.

Ambientado no século XI, o filme apresenta a história de um guerreiro viking escravo de cristãos durante uma época onde a cultura nórdica já estava em completa decadência. Colocado para lutar e trabalhar incansavelmente, um garoto é o único que cuida dele, alimentando e tratando os ferimentos. Até finalmente conseguir atacar e matar seus mestres, restando apenas o menino, que fica sozinho no meio do nada. E assim, ele passa a seguir o guerreiro, que batiza de "Um Olho" (One Eye), por ter um de seus olhos furados.
"O Guerreiro Silencioso" (Valhalla Rising) é uma obra cinematográfica singular e inquietante de 2009 dirigida por Nicolas Winding Refn, conhecido por seu estilo ousado e visualmente marcante. Certamente a obra que fez esse cineasta explodir foi Drive, principal inspiração de Hotline Miami e que foi lançado dois anos depois. Mas seu filme medieval mostra bem que Winding já tinha fortes tendências a apresentar filmes filosóficos.
 
O filme mergulha os espectadores em uma jornada sombria e introspectiva, refletindo o estilo distintivo do diretor. Mas sinceramente foi uma surpresa enorme, especialmente porque sempre vi fotos desse filme por aí, especialmente porque antes de fazerem a série de The Witcher, onde sempre que saia notícias sobre um possível live action, usavam imagens do protagonista desse filme como representação, junto a "Michael Kohlhaas - Justiça e Honra" de 2014.
Mas o negócio é... Sempre me pareceu ser um filme medieval genérico perdido entre muitos outros. Afinal de contas convenhamos que é muito comum esse tipo de produção ser de duas, uma... Ou uma super produção cabulosa cheia de explosões que aparece, ganha o dinheiro e é esquecida, ou é um filme de baixo orçamento que tenta fazer o mesmo e fica perdido no underground. Tanto que dá pra contar nos dedos de uma mão produções como O Senhor dos Anéis, que deixaram um legado.

E eu não tinha a mínima ideia de que era um filme do Nicolas Winding Refn, mas mesmo quando fui assistir, não criei uma expectativa grande e pensava que ia ser um filminho bem mais ou menos. Eu não tinha expectativa que fosse algo mais sombrio e parecido com obras de Dark Fantasy de baixo orçamento como O Caçador de Cabeças ou o obscuro Black Angel. Sendo assim, foi uma verdadeira surpresa quando vi o que foi apresentado.
Não é que eu nunca tenha visto filmes medievais diferenciados, dá pra ver isso bem em obras como Fuga, com sua proposta super diferenciada que prova que a idade média pode adaptar histórias que vão muito além de reis e rainhas. Ou The Appearence, filme de terror que foi ousado em unir o naturalmente caro orçamento de um filme dessa época com um gênero bem menos lucrativo que ação e aventura. Mas sempre é uma surpresa descobrir uma dessas pérolas.

E o que temos aqui é um filme de natureza experimental, o que acaba dando uma enorme liberdade artística ao diretor. Especialmente pelo fato de que esse tipo de filme já entende bem que não é feito para atingir um grande público. As informações que achei sobre bilheteria foram um pouco difusas, mas pelo o que vi, custou 5,7 milhões de dólares e faturou apenas 731 mil dólares. Não sei se é isso mesmo, mas parece condizer, visto que foi um filme norueguês com lançamento super limitado. Então ter sido um fracasso de público tem bastante sentido.
O mais engraçado é que encontrei nesse filme o que eu queria ter encontrado em O Homem do Norte. Digo isso porque o diretor Robert Eggers tinha feito antes A Bruxa e também O Farol. Sendo que o primeiro é um filme de baixo orçamento muito intenso que tenta simular o pavor de bruxa de pessoas de uma época e o segundo é um filme de natureza completamente experimentar. E o que eu esperava para seu filme viking era algo parecido, com muito foco na essência. Mas ao invés disso foi um filme que só achei legal e não parece ter a mesma potência de tocar a alma como os anteriores.

Já o longa-metragem nórdico de Winding é uma obra completamente sensorial. Eu já tinha ficado muito encantado quando assisti A Lenda do Cavaleiro Verde e me deparei com uma obra cinematográfica do gênero Sword and Sorcery (Espada e Feitiçaria), pois é o tipo de coisa que é uma experiência pessoal demais pra se colocar no cinema. Então não imaginei que tão cedo iria encontrar algo assim de novo. Mas é exatamente o que O Guerreiro Silencioso é.
Dessa forma é preciso ficar claro desde o início que não é um filme que agrada todo mundo e que com certeza muita gente vai achar puramente chato. Especialmente porque quando se pensa em um filme medieval é fácil pensar no padrão que se tornou, que é o filme cheio de aventura através de um reinado. E com certeza isso está bem distante do foco que temos aqui.

Esse é um filme que acho além de seu tempo, pois creio que se fosse lançado hoje em dia, certamente seria amado por muita gente, já que os admiradores de filmes experimentais começaram a crescer. Isso sem contar que não é algo tão experimental a ponto de ser um Begotten da vida. Aqui o nível é muito mais no fato de que não tenta prender o espectador e usar as técnicas comuns para o filme não ficar parado. Muito pelo contrário, a coisa faz jus total a seu nome em português.
O protagonista não dá um pio do começo ao fim do filme, o que pode soar muito curioso, já que e ele é interpretado pelo ator Mads Mikkelsen, que se tornou um estouro depois que estrelou a série do Hannibal, e sua carreira só foi aumentando, indo de Animais Fantásticos até seu papel como antagonista do jogo Death Stranding. Mas aqui ele é de fato o guerreiro silencioso.

A forma de apresentação do filme é peculiar, dividida em capítulos, o que dá aquele toque de fábula sendo apresentada. No entanto a divisória entre misticismo e realidade é bastante tênue, mas voltada para o realismo. Então você pode ver certos elementos como sobrenaturais, ou pode ver como misticismo na visão dos personagens, especialmente porque não aparecem coisas como algo brilhante ou aparição. São mais para visões, lembra a forma que vemos em Vikings e Vikings Valhalla, que não são necessariamente séries sobrenaturais.
Então estão mais para coisas do tipo as visões do protagonista, que podem ser sim algo mágico, mas podem ser algo sobrenatural. Inclusive acredito que o formato em que foi apresentado Hellblade: Sinua's Sacrifice pode ter tido alguma inspiração aqui. Porém no filme a coisa é muito mais discreta e tenta mesmo se prender ao realismo, inclusive acho que às vezes até demais, fugindo dos padrões hollywoodiano.

Você nota isso bem ao ver o quanto todos os personagens estão perdidos e com medo. Dá pra sentir bem a essência da miséria ali presente. São todas pessoas que querem apenas sobreviver e vivem em um mundo rodeado de misticismo, sem noção de onde estão e que se apavoram com qualquer coisa, acreditando em maldições, profecias e outras coisas. Eu achei maravilhoso como o roteirista conseguiu transmitir bem esse horror de viver em uma época onde nada era garantido e pessoas estavam afundadas na ignorância e muitas vezes cegas pela fé.
O garoto é provavelmente o personagem que mais deixa isso claro, não tendo o visual impecável de uma criança super bonitinha e bem nutrida que é comum ver nesse tipo de filme. Ele é todo sujo, descabelado, e com uma frequente expressão de alguém perdido. Você vê isso desde o começo com ele perseguindo o Um Olho à distância, com medo, mas sem ter nenhuma outra alternativa, em uma área selvagem sem direção.

E isso fica ainda mais evidente quando ele revela que quer voltar pra casa, e ao questionarem onde ela fica, ele fica confuso e então responde que não sabe. Acho que isso transmite demais o horror desse tempo, onde se podia ser capturado e levado pra um lugar distante a qualquer momento e simplesmente se perder pra sempre, pois a vila onde você vivia nem nome tinha e mesmo que tivesse, quem é que saberia dizer a direção desse lugar em outro país? E quais as chances de conseguir chegar vivo em uma jornada pra lá? Que recursos pagariam?
Esse é um filme extremamente sensorial. Sendo assim é algo mais para se sentir do que se prestar atenção na história apresentada. Existem sequências imensas sem diálogos, apenas mostrando locais ou os personagens andando. É uma coisa bem atmosférica e aconchegante, com belos locais e um som de fundo que não é trilha sonora, mas ruído branco, como ventania e outros sons contínuos que dão um toque misterioso.
 
Isso acaba gerando um contraste fenomenal, pois divide o horror e a maravilha em um só lugar. Se por um lado é um imenso mundo natural misterioso onde ninguém sabe em que lugar está, por outro se trata de um ambiente perigoso e cheio de horror em que qualquer um pode viver ali, onde não tem civilização para proteger qualquer um que esteja sofrendo qualquer coisa.
O local de filmagem, que é principalmente a paisagem selvagem e desolada da Escócia, desempenha um papel crucial na criação da atmosfera do filme. As vastas paisagens naturais são usadas de forma magistral para transmitir a sensação de isolamento e perigo iminente enfrentado pelos personagens. No entanto as câmeras são bem ruinzinhas, parece que foi filmado em uma tekpix e fica ainda mais feio alguns efeitos claramente de edição pra apresentar certas coisas. Ou seja, a bela paisagem e noção de fotografia do diretor claramente lutam com o orçamento limitado do filme.

Naturalmente é algo carregado de simbologia, então se por um lado você pode ver simplesmente como uma história de jornada miserável, por outra você pode ver que as coisas são apresentadas com significado mais profundo. O tom triste que permeia o filme é uma representação evocativa do fim da era dos nórdicos e da mudança cultural que aconteceu nesse período histórico. 
Eu interpretei como a representação da decadência dos vikings, apresentando Odin (Que na mitologia é representado como um velho que tem um olho só) tentando salvar a única coisa que sobrou de seu povo, só um menino perdido que não tem ideia de onde foi parar ou no que acreditar, porque foi retirado de seu local de origem, mas que continua servindo seu deus mesmo na miséria e o seguindo mesmo com medo e sem saber no que vai dar. Talvez o nome Valhalla Rising (Ascensão de Valhalla) seja uma simbologia de levar o que sobrou para o céu viking. É realmente algo muito aberto a interpretações. Se tiverem uma, digam.
 
Refn utiliza a melancolia como uma ferramenta narrativa, mergulhando o público na atmosfera sombria e desolada da época. A falta de diálogos proeminentes, característica frequente em suas obras, acentua a sensação de isolamento e alienação que os personagens experimentam. Para aqueles que não acharem tedioso demais, certamente vão sentir bem o quanto essa essência é passada.
A relação entre Nicolas Winding Refn e Mads Mikkelsen, que também protagoniza o filme, é notável. Refn e Mikkelsen têm uma colaboração natural que se desdobra na tela, com Mikkelsen capturando a intensidade e a profundidade emocional necessárias para o papel principal, tendo que fazer isso sem dizer nada. Talvez pelo fato de ambos serem noruegueses, portanto os vikings eram mesmo seus antepassados.

Curiosamente o filme é extremamente visceral também. Isso dá um contraste enorme com a natureza quieta do filme. Embora na maioria do tempo o foco seja algo contemplativo, quando os personagens entram em combate, não é algo estiloso ou bonito. Você não vai ver algo ao estilo Assassin's Creed Valhalla, mas sim personagens determinados cheios de lama. Tem uma hora que o personagem corta a barriga do outro, enfia as mãos e arranca as tripas dele. É bem bizarra a coisa.

Enfim, "O Guerreiro Silencioso" é uma peça cinematográfica excepcional que encapsula o estilo distintivo de Nicolas Winding Refn. Através de sua estética visual, atmosfera melancólica e colaboração impactante entre o diretor e Mads Mikkelsen, o filme oferece uma experiência envolvente e emocionalmente carregada. Vale a pena se você gosta de obras filosóficas. Me impressionou.
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Sobre Mitologia Nórdica

A mitologia nórdica é uma rica tapeçaria de histórias, deuses, criaturas e eventos que povoaram a imaginação dos povos escandinavos por séculos. Essas lendas, transmitidas de geração em geração, oferecem um vislumbre intrigante de um mundo onde deuses e mortais coexistem, onde batalhas épicas moldam destinos e onde a natureza se entrelaça com o sobrenatural.

No centro desse panteão está Odin, o Pai de Todos, o sábio e astuto deus que reina sobre Asgard, o reino dos deuses. Odin é conhecido por seu olho sacrificado e pela busca incessante pelo conhecimento. Ele cavalga oito patas de Sleipnir, seu fiel cavalo, enquanto envia seus corvos, Huginn e Muninn, para trazer notícias dos nove mundos.

Ao lado de Odin está Thor, o Poderoso, cuja força é personificada pelo martelo Mjölnir. Thor protege Midgard, o reino dos humanos, de ameaças como Jormungandr, a serpente do mundo, e Fenrir, o lobo feroz. Seus trovões ressoam pelos céus, inspirando temor e respeito.

Freyja, a deusa da fertilidade e do amor, exerce um papel vital no panteão nórdico. Ela governa sobre o reino dos Vanir, uma das duas raças divinas, e é conhecida por sua beleza estonteante e sua influência sobre o destino. Freyja lidera as Valkyries, donzelas guerreiras que conduzem os heróis caídos para Valhalla, o grandioso salão dos heróis, onde se preparam para o Ragnarök, o crepúsculo dos deuses.

Loki, o astuto e ambivalente deus da trapaça, é tanto uma figura intrigante quanto um agente de caos. Ele é irmão de Odin e frequentemente oscila entre auxiliar e antagonista dos deuses. Suas travessuras muitas vezes desencadeiam eventos cruciais, como a morte de Balder, o deus da luz e da pureza.

O mundo nórdico é sustentado por Yggdrasil, a Árvore do Mundo, cujas raízes se estendem pelos reinos de Asgard, Midgard e Niflheim. É sob sua sombra que os deuses governam e os humanos vivem suas vidas. Os Norns, tecelãs do destino, moldam os fios do destino dos mortais, enquanto as raízes de Yggdrasil conectam a todos.

O futuro culmina no Ragnarök, um evento cataclísmico que trará batalhas titânicas e destruição. Os deuses, incluindo Thor e Odin, enfrentarão seus adversários finais. Entre os sobreviventes estará Vidar, o silencioso e poderoso, que se vingará da morte de seu pai Odin.

Os nove mundos da mitologia nórdica são lugares de maravilha e perigo. Midgard é a terra dos humanos, Alfheim é lar dos elfos luminosos, e Niflheim e Muspelheim representam gelo e fogo primordiais. Cada reino possui suas próprias figuras lendárias, como Skadi, deusa das montanhas e do inverno, e Ran, que governa as profundezas do oceano.

A mitologia nórdica está preservada nas Eddas, coleções de histórias que refletem os valores e crenças dos povos nórdicos. Essas histórias são entrelaçadas com o cotidiano, influenciando festivais como Yule, o solstício de inverno, e trazendo à vida figuras como Idun, guardiã das maçãs da juventude.

Por trás de cada deus, criatura e evento na mitologia nórdica há uma complexidade e profundidade que continuam a cativar e inspirar. Essas histórias transcendem o tempo e as fronteiras, nos lembrando da rica herança que elas representam e da ressonância duradoura que têm na cultura e na imaginação.

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