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Morte Morte Morte | Filme de terror estranho que mistura geração Z e Agatha Christie

O gênero terror é um dos mais populares e amados pelos amantes de filmes de suspense e medo, e uma das coisas que mais falo aqui no Blog Nerd Maldito. E em 2022, tivemos um ano marcado por alguns dos mais marcantes filmes de terror de todos os tempos, de uma forma boa ou péssima, mas o negócio é, teve uma grande variação, como  "Exorcismo Sagrado", "A Luz do Demônio", "Halloween Ends", "Pânico 5" Além disso, outros filmes de terror emblemáticos foram lançados, incluindo "Aterrorizante 2" (Terrifier 2), e "X - A Marca da Morte".  E "Morte Morte Morte" (Bodies Bodies Bodies), do estúdio A24, foi um que se destacou por ser diferenciado.

Desde a rede de televisão Star, até os lançamentos do mês na HBO Max, o gênero de terror está sempre presente entre as novidades várias plataformas de streaming que, diante do conteúdo mais variado, oferecem aos fãs de filmes de terror e garantem acesso a alguns dos títulos. É certo que muitos são ruins, mas sempre tem  os que conseguem se destacar, seja decepcionando, o que é fácil no gênero, até serem taxados como sendo os melhores filmes de terror já produzidos. E em "Morte Morte Morte" temos algo que tenta fugir um pouco do padrão.
A história é focada em um grupo de jovens ricassos que decidem fazer uma festa em uma mansão isolada do pais de um deles. Sophie é uma garota que começa a namorar Bee e decide levá-la para curtir junto. Lá eles resolvem fazer um jogo chamado "Morte Morte Morte", onde um assume o papel de um assassino e deve tocar as costas dos outros no escuro. No entanto quando um deles é assassinado de verdade, a paranoia começa.
 
Ele acaba fugindo do que conhecemos normalmente, sendo uma mistura entre o clichê do grupo de jovens que se lasca, mas adicionando um elemento moderno, que é o horror envolvendo jovens da era digital e naturalmente ganha um toque de comédia por parecer bobo. Dos populares, alguns dos filmes mais pesados ​​e aterrorizantes incluem "O Exorcista", "A Bruxa de Blair", "Hereditário" e "O Massacre da Serra Elétrica". Todos esses filmes tem aquele clima de horror pesadão. Mas aqui, a coisa tenta ser realista sobre como jovens da geração Twitter lidariam ao serem expostos ao extremo medo.
Descrito como uma "sátira sobre classe e privilégio, mediada pela nova tecnologia, o linguajar da política progressista e a cultura jovem, e a identidade da geração Z", este filme apresenta uma relação cômica escura sobre a relação da geração Z com seus celulares e a internet. A diretora, Halina Reijn, faz uma observação interessante sobre o impacto da perda de acesso à tecnologia quando a Wi-Fi se desconecta, afirmando que é como se eles perdessem o oxigênio.
 
Ou seja, o filme tem naturalmente um clima de bagaceira e é fácil fazer com que você no mínimo sorria da proposta. É verdade que temos muito bagaço em filmes de terror em geral, como "Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma", mas esses costumam ser trash sem ter isso em sua essência. Ou seja, isso é falha na execução do filme e não um elemento criado para fazer parte.
Desde clássicos como "Olhos Famintos"até obras diferenciadas como "All Hallows' Eve" e seu palhaço demoníaco, ou apenas filmes de terror executados de uma forma decente como "O Telefone Preto", esses filmes acabaram se destacando simplesmente por ter algo a mais. E no caso de "Morte Morte Morte" acaba tendo isso também, porém o filme pode ser facilmente taxado como genérico, até pelo trailer.
 
O longa pega muito a essência da histeria e do drama. Sabem aquelas pessoas melhores amigas que de repente começam a brigar e então toda aquela ideia exagerada de melhores amigos para sempre de repente vira uma loucurada online para ver quem é mais tóxico que o outro e do nada estão bem? É bem isso aqui, um se voltando contra o outro de forma histérica e opiniões mudando rapidamente para ver quem vão "cancelar".
Inclusive chega a ser meio estranho, já que a A24 se tornou conhecida por fazer filmes profundos. Foi ela que fez coisas como "The Monster", "O Farol" ou "O Sacrifício do Servo Sagrado". Então pode ser um baita susto ver um bocado de jovens e um toque psicodélico. Mas uma curiosidade, é que a A24 também é a produtora de "Euphoria" da HBO. Então, por mais que não tenha me atraído pelo trailer, eu quis dar uma olhada.

Alguns críticos destacaram a influência da obra "E Depois Não Sobrou Nenhum" (1939) da autora Agatha Christie, com essa ideia de um lugar com pessoas paranoicas e um assassino que tá eliminando um por um. A diretora Halina Reijn também mencionou em uma entrevista à Vice a influência de vários filmes, como "Heathers" (1988), "Don's Plum" (2001), "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?" (1966), "A Professora de Piano" (2001), "Lágrimas e Sussurros" (1972) e a filmografia de John Cassavetes.
Ao longo dos anos, o gênero terror evoluiu e se tornou mais sombrio e perturbador, mas ainda é um dos mais populares entre os fãs de filmes de suspense, e "Morte Morte Morte" foi contra a maré, se apegando exatamente no suspense de livros onde alguém é o assassino, e ao mesmo tempo não sendo nada sombrio, mas sim psicodélico. Apesar das pessoas preferirem filmes de terror padrão como "Noites Brutais" e "Escolha ou Morra", alguns dos melhores filmes de terror de todos os tempos também não são necessariamente gore ou com todo o clichê de ultra macabro.

Uma coisa muito bacana, é que apenas olhando por alto, esse filme pode facilmente ser julgado como só a bagaceira com um monte de jovens mimados, mas você acaba notando que ele tem uma baita de uma base sólida, pois o criaram realmente focado no jeito um tanto pitoresco que muitas vezes age a geração virtual. Apesar do perigo físico que cada personagem enfrenta, suas realidades virtuais ainda são fundamentais para a trama, e assim mantém a pose. O longa destaca a incapacidade dos personagens de se relacionarem pessoalmente sem a utilização do jargão "centrado em traumas" das redes sociais, como "gaslight", "gatilho" e "tóxico".
Achei bacana a forma que a metáfora foi feita sobre a forma como as coisas viram polêmicas nas redes sociais. De repente algo parece ser muito importante e todo mundo quer apontar o dedo para o outro e descer o cacete. Quem nunca viu brincadeiras virarem algo sério e fanboys perdendo o controle por algo bobo? É só ver o médico fanboy que levou a briga de videogame pra mesa de cirurgia e se lascou. Tem uma hora que uma personagem fala "Eu não acredito que você tá transformando isso em algo sobre você!", se referindo ao fato de que alguém acabou de morrer ali e que cada um parecia querer ser o centro das atenções.

E aqui temos um grupo de jovens isolados em um lugar. Tem algo grandioso como um furacão rolando lá fora, mas isso é minimizado completamente pelo caos que rola ali dentro. Tem por exemplo o cara que se sente irado por ver seu posto de "gostoso" ameaçado, tem a jovem que gosta de pregar sua falsa história de que saiu da pobreza e se tornou rica, tentando se encaixar, tem a atriz que só namora pra não se sentir excluída e tem medo de não conseguir. E todos os tentam com todas as forças manter as identidades criadas e procurar culpados. Eles supostamente se conhecem, mas estão no escuro e confusos, bastou algo acontecer e jogam seus podres uns contra os outros.
Mas, apesar de aqui termos um filme diferenciado que gostei de assistir, assumo que não o considerei uma obra prima. Eu acho que o que ele fez foi o básico que todo filme de terror deveria fazer, que é ser no mínimo interessante. Inclusive entendo quem o ache só genérico, já que é fácil ignorar completamente a metáfora presente com jovens absurdamente estereotipados. Mas acho que se destaca só por ter  uma fonte real de "essência". Afinal de contas, todo mundo sabe qual é a essência das redes sociais. E sendo uma fonte de inspiração sólida, o filme acabou entregando algo que de fato lembra.

Enfim, "Morte Morte Morte" é um filme que apresenta uma sátira social a respeito de questões atuais, como a tecnologia e a geração Z, enquanto homenageia clássicos do gênero de suspense e terror. Achei uma mistura curiosa e valeu a pena. O clima chuvoso dele o tornou perfeito para assistir naquela noite com chuvinha, sendo fácil de digerir e divertido.

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