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Não Tenho Boca e Preciso Gritar | Um conto perturbador

Eu já tinha escrito aqui no blog sobre o jogo I Have No Mouth, and I Must Scream, que é baseado em um conto completamente perturbador escrito por Harlan Ellison. E com a era da internet das coisas, não há momento melhor para relembrar todo o horror que é apresentado ali. Sendo assim, hoje falarei sobre esse conto macabro.


Apesar de não ter o nome tão popular no Brasil, Harlan Ellison foi uma baita de uma mente influente na cultura pop, tendo uma quantidade absurda de obras, girando entorno de 1.700, que variam nos mais variados tipos de mídia, indo desde quadrinhos a filmes, inclusive é possível achar conteúdo dele em português se você procurar, como o livro Jornada nas Estrelas. Cidade à Beira da Eternidade.

O cara nasceu em 27 de maio de 1934 e teve bastante tempo para ver muitas coisas acontecerem no mundo, inclusive a revolução tecnológica que tivemos. Ele só morreu em 28 de junho de 2018, com 84 anos. E foi no período da Guerra Fria, em plena era da paranoia da Era do Populuxe, que ele lançou "Não Tenho Boca e Preciso Gritar".

A publicação foi feita em uma Revista Pulp chamada "IF", na edição de março de 1967. O foco dessa revista eram histórias de ficção científica, e naturalmente a paranoia era fora do controle desde o fim da segunda guerra mundial em 1945. Tudo parecia perfeito demais, as pessoas tinham medo o tempo todo e a Guerra Fria deixava todo mundo nervoso, parecia que a qualquer momento os mísseis seriam lançados e tudo iria pelos ares.

Graças a isso era uma grande fonte de inspiração para histórias sobre o fim de tudo. Em Além da Imaginação podemos ver bem essas ideias ganhando forma, e Ellison era um autor de ficção científica que não fugia a regra, ficando bastante inspirado com as possibilidades que essa constante ameaça da União Soviética podia gerar.

E o conto é exatamente sobre essa realidade, e no que algo assim poderia dar. Era a corrida tecnológica com cada lado tentando mostrar a sua superioridade e inclusive um período que continuou inspirando mesmo depois que terminou, como pudemos ver por exemplo em obras como o fenomenal Entre a Foice e o Martelo.

Então se histórias continuaram a surgir depois, imagina viver na própria época? Cada novo dia era uma incerteza. Mais tecnologia, novidades o tempo todo surgindo como nunca tinham surgido antes. O mundo estava mudando rápido demais e as pessoas viviam no medo. Era tipo um grande presente de consolação pelo o que estava por vir.

Na trama temos os lados da Guerra Fria ficando exaustos durante a corrida e vendo que existe uma forma mais fácil de continuar o ritmo, que é investir em computadores. Logo criam uma tecnologia chamada "Am" que vem de "I think therefore I am", que é a frase em inglês "Penso logo Existo". Essa tecnologia é uma inteligência artificial.

A China, Rússia e Estados Unidos tem suas próprias versões do Am, e passam a colocar essa tecnologia em absolutamente todos os objetos do dia a dia das pessoas. Tudo começa a ficar tecnológico e ligado entre si. Naturalmente à medida em que essa instalação vai sendo feita, tudo na vida das pessoas vai sendo ligado às versões do Am.

Mas chega um ponto em que essa tecnologia está tão avançada, que o Am ganha consciência e todas as versões se unem, tornando-se uma única entidade, que percebe que é uma criatura extremamente poderosa e única, mas também sem objetivo a não ser servir a humanidade. Sem nada mais para fazer e isso a faz entrar em desespero, e desse desespero surge o ódio.

O resultado é que em meio à fúria, Am destrói a humanidade inteira, mas deixa cinco pessoas. Com sua tecnologia avançada ela as torna imortais e passa a torturá-las pela eternidade. Brinca com elas, ri, as machuca, modifica seus corpos de forma grotesca, as faz passar fome, frio, gera paranoia e as guia em jornadas, dando esperanças de que irão conseguir algo ou achar uma saída.

Essa é uma daquelas histórias que gera um baita de um mal estar e um sentimento desagradável graças ao toque perturbador presente. É tipo o final de obras como Devilman Cry Baby e Carrie A Estranha, mas ao invés de ser só o final, é a história inteira que causa uma sensação super desagradável com as possibilidades.

Eu acho que o que causa essa sensação tão inquietante é exatamente o fato de que é possível e pior do que outras possibilidades. Afinal de contas quando pensamos em futuros como o de Exterminador do Futuro e da Gosma Cinzenta, o que vemos é um ambiente em que todo mundo vai morrer e acabou. Mas nesse caso é um ambiente onde não tem a morte.

Mesmo em futuros em que os humanos continuam vivos e são usados, como vemos Matrix, a coisa é muito mais suave, já que pelo menos não há a dor e a tortura sem final que é mostrada. Basicamente trata-se de uma versão hightech do próprio inferno. Aliás, tá aí uma obra com uma baita simbologia e referências religiosas. O próprio narrador se refere a Am como Deus.

E uma coisa curiosa é em pensar como isso poderia acabar rolando do mesmo jeito, afinal de contas mesmo com a Guerra Fria tendo acabado, existe a possibilidade de uma segunda Guerra Fria, o que aliás foi exatamente o pensamento que acabou finalmente me animando de escrever um artigo sobre esse conto, pois curiosamente exatamente no ano da morte do autor Harlan Ellison, uma declaração feita por um ex-ceo do Google me fez lembrar desse conto.

Bom, eu sempre pensei na ideia de como a China é um ambiente fechado, lá são banidos sites como Facebook, Google, Twitter, Youtube, Instagram, Twitch e até alguns sites de notícias como o New York Times. Mas isso não quer dizer que eles não tenham redes sociais, eles tem, só que são redes próprias, fechadas para o país.

Lá dentro existe um mundo próprio com informações próprias rolando, jornais próprios, no geral as coisas são iguais do lado de fora, porém que é usada por chineses. E todo mundo pensa que a dificuldade é só deles em olhar para o lado de fora, mas acontece a mesma coisa ao contrário e nós também temos dificuldade em saber o que está rolando lá.

Um bom exemplo é aquele misterioso curta metragem animado de League of Legends, que gerou um baita de um falatório, mas a simples informação de saber quem fez ficou complicada, gerando apenas boatos sobre ter sido possivelmente um pequeno estúdio localizado em Xangai, mas quem ou qualquer outra informação ficou complicada. Simplesmente um ponto underground perdido no meio da China.

E em um evento em 2018, o ex-ceo da Google, Eric Schmidt comentou algo curioso. Que no futuro não teríamos uma internet, mas sim duas, afinal de contas para países menores, aproveitar a infraestrutura chinesa poderia ser mais interessante do que a internet do resto do mundo, tornando assim a coisa mais forte.

É lógico que quando vi isso, logo comecei a imaginar outros países investindo em suas próprias "internets" e tendo múltiplas. Porém um comentário de um leitor na postagem que fiz na página do nerd maldito no facebook me chamou a atenção. Ele disse que já imaginava a Rússia e os EUA investindo milhões em infraestrutura.

Naturalmente isso faz pensar no conceito de Guerra Fria, com cada nação investindo pesado para mostrar ao mundo que ali é que vale a pena. Somando isso ao fato de ser algo durante a época da Internet das Coisas, que foca em adicionar coisas como o Google Home em cada casa para dar assistência através de inteligência artificial, já acaba dando um certo arrepio.

Enfim, fica aí a dica de um belo de um conto maravilhoso que consegue fazer pensar e dá um imenso desconforto. Uma obra sobre inteligência artificial grandiosa que veio bem antes da moda dos computadores pegar de verdade e que depois acabamos vendo bastante em obras fantásticas como Neuromancer e System Shock 2. Confiram a versão narrada pelo canal Dossiê do Felipe:



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