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A coisa no luar - Entendendo a mente de Lovecraft

É de conhecimento geral que os trabalhos de H.P. Lovecraft eram fortemente baseados em seus sonhos. Porém normalmente eram usados apenas como base mesmo, e não um sonho era pego inteiro e descrito como história. Mas o autor J. Chapman Miske preparou um conto que colocou de forma genuína a mente do criador de Cthulhu. Esse conto acaba sendo confundido com uma obra do próprio Lovecraft, mas não foi, ao menos não exatamente.

O que aconteceu foi que em 1927, Lovecraft escreveu uma carta ao autor Donald Albert Wandrei, onde descrevia um sonho que tinha. Sendo assim em 1941, o autor J. Chapman Miske decidiu escrever o conto "A coisa à luz da lua", onde há um personagem chamado de Morgan, mas que se apresenta como Howard Philips e explica seu sonho.

Tudo é mostrado de uma forma um tanto bizarra, uma cidade sombria e criaturas que todos irão identificar muito com o trabalho de Lovecraft, envolvendo terror e tentáculos, além é claro da constante bizarrice que o desconhecido apresenta e a forma que a mente humana reage a essas bizarras coisas, com um intenso medo. Então dá pra ver bem como ele criava as coisas.

O conto não é todo do J. Chapman Miske, já que a carta original é usada nele, o que aconteceu foi que ele adicionou um narrador que não é identificado, mas faz parecer que é um conhecido de Morgan, e também colocou alguns parágrafos adicionais à carta para que essa ficasse perfeitamente como um conto. Sendo assim acabou por transformar Lovecraft em um personagem de seu próprio universo, o que não deixa de ser verdade, já que o mesmo baseava suas histórias em experiências próprias.

Uma outra coisa interessante, é que esse é um dos contos que mesmo não sendo do Lovecraft, faz parte do Ciclo dos Sonhos, portanto é colocado como se o mesmo tivesse conseguido atravessar o portal, no entanto estivesse em uma área perigosas da Terra dos Sonhos. Um detalhe curioso é que tem pessoas que acreditam que a Terra dos Sonhos seja real, e que Lovecraft apenas relatava informações sobre o lugar, já que o sonho é algo que todos tem acesso e tem muita gente com histórias intrigantes envolvendo sonhos. Se você se interessar, confira:



A coisa no luar

Morgan não é um sujeito literário; na realidade ele não fala inglês com qualquer grau de coerência. Isso é o que me faz pensar sobre as palavras que ele escreveu, apesar de outros terem rido disso.
Ele estava sozinho na noite em que isso aconteceu. De repente um desejo invencível de escrever tomou conta dele, e, pegando uma caneta tinteiro na mão, escreveu o seguinte:

"Meu nome é Howard Philips. Moro na College Street, 66, em Providence, no estado de Rhode Island. No dia 24 de novembro de 1947- pois nem sei em que ano estamos agora-, peguei no sono e sonhei, e desde então não consigo acordar.

Meu sonho começou num pântano úmido cheio de juncos que se encontrava sob um céu cinzento de outubro, com um penhasco escarpado de pedra incrustada de liquens que se erguia na direção norte. Impelido por alguma busca obscura, escalei uma fenda ou fissura nesse precipício saliente, observando enquanto subia as entranhas escuras de várias tocas temíveis que se estendiam de ambas as paredes até as profundezas do platô rochoso.

Em vários pontos a passagem ficava coberta pelas partes sufocantes da fissura estreita; esses lugares eram muito escuros, impedindo dessa forma a percepção de tocas que podiam estar ali. Num desses espaços escuros percebi um acesso de pânico, como se uma emanação sutil e sem corpo do abismo estivesse engolindo meu espírito; mas a escuridão era grande demais para que eu percebesse a fonte do meu alarme.

Por fim emergi sobre um platô rochoso coberto por musgos e com um solo pobre, iluminado pelo luar débil que tomara o lugar da órbita que expirava. Lançando olhares à minha volta, não contemplei nenhum ser vivo; mas senti uma vibração muito singular bem abaixo, em meio aos ruídos sussurrados do charco pestilento que eu deixara há pouco.

Após caminhar por alguma distância, encontrei os trilhos enferrujados de um bonde e os postes comidos pelos vermes que ainda sustentavam o cabo sem energia e quase caindo. Seguindo esse trilho, logo cheguei num vagão amarelo com um corredor, numerado 1852 e de um tipo simples, com aberturas para os dois lados comum de 1900 a 1910. Ele estava desocupado, mas evidentemente pronto para partir; o bonde estava ligado ao cabo, e o freio a ar vibrava de vez em quando em baixo do assoalho. Subi nele e olhei em vão à minha volta pelo interruptor da luz- observando, ao fazer isso, a ausência da alavanca de controle, o que implicava consequentemente na breve ausência do motorneiro. Então sentei num dos assentos de costas para a frente do vagão. Dentro em pouco, ouvi um assobio na grama esparsa mais à esquerda e vi as formas escuras de dois homens pairando sob o luar. Eles usavam os bonés regulamentares da companhia ferroviária, e eu não poderia duvidar de que eram o condutor e o motorneiro. Então um deles farejou com uma intensidade notável, ergueu o rosto e uivou para a lua. O outro se jogou no chão apoiando-se nos quatro membros e começou a correr na direção do vagão.

Dei um salto e corri que nem um louco para fora daquele vagão e por milhas sem fim do platô, até que a exaustão me forçou a parar- e fiz isso não porque o condutor tinha partido correndo com os quatro membros, mas porque o rosto do motorneiro era um cone branco simples que se afilava até um tentáculo com de sangue...

Eu tinha consciência de que estava somente sonhando, mas a própria consciência disso não era agradável.

Desde essa noite terrível tenho rezado só para despertar, mas isso ainda não aconteceu!

Em vez disso me vi um habitante desse mundo dos sonhos horrível! Aquela primeira noite deu lugar ao amanhecer, e perambulei sem destino através dos pântanos solitários. Quando veio a noite, eu ainda perambulava, esperando despertar. Mas de repente abri caminho pelas relvas e vi diante de mim o antigo bonde- e de um lado um ser com um rosto cônico ergueu a cabeça e, sob a luz que emanava do luar, começou a uivar estranhamente!

Isso tem sido o mesmo a cada dia. A noite sempre me leva para aquele lugar de horrores. Tentei não me mexer com a chegada do anoitecer, mas devo caminhar no meu cochilo, pois sempre me deparo com esse ser terrível uivando à minha frente sob o luar pálido, e me viro e saio correndo enlouquecido.

Meu Deus! Quando vou acordar?"

Foi isso que Morgan escreveu. Eu iria até College Street, 66, em Providence, mas temo o que possa vir a encontrar por lá. 

J. Chapman Miske e H.P Lovecraft

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