Se você é do tipo que gosta de jogos artísticos, esse é daqueles que se destacar imediatamente pelo visual semelhante ao de uma pintura e deve ter levado centenas de horas de trabalho em mesa digitalizadora. Mas o grande destaque vai para sua jogabilidade de nicho em que não existe um objetivo claro e a comunicação com outros jogadores só pode ser feita através de símbolos.
A história se passa na península da Costa Trançada, um ambiente mágico maravilhoso e misterioso onde andarilhos vagam e interagem com o que esse ambiente tem para oferecer, cruzando ocasionalmente o caminho de semelhantes e usando escambo para conseguir novos objetos e então partir para nunca mais se encontrarem.
Esse é um daqueles MMOs realmente esquisitos, a desenvolvedora descreve ele como TMORPG on-line (Tiny Multiplayer Online), por não ser algo focado em achar milhares de jogadores pelo mundo, mas sim um tipo de experiência solitária em que ocasionalmente é possível achar algum jogador. Sendo assim o foco não é bem a interação.
Mas mesmo ao encontrar outras pessoas, é notável a sensação de distanciamento, pois a comunicação não é feita por textos e muito menos por áudio. Nesse você usa símbolos para conseguir falar com alguém. Dessa forma é preciso observar o que você tem disponível e tentar fazer uma combinação para dizer algo e também é preciso que a pessoa interprete.
Isso acaba sendo algo que estimula a criatividade. Enquanto alguns símbolos podem ser óbvios, como uma seta pra esquerda ou um sinal de joinha. Ainda existe espaço pra interpretação e uma seta pode tanto indicar "Me siga" como "Tem algo ali". Então é um jogo que exige paciência e paz de espíritos daqueles que decidem se aventurar.
Você não joga Book Of Travels pensando em zerar ou ficar mais forte, mas sim na exploração do magnífico visual que me lembrou bastante aqueles quadros japoneses antigos. Isso não é apenas pelo gráfico que, apesar de ser 3D, usa texturas pintadas e um visual lateral, que quando você olha fotos, parecem realmente quadros, além de uma série de toques orientais, como os personagens. Algo interessante é que o dia e noite acompanham o tempo real de sua região, então você só conseguirá ver o dia do jogo se jogar de dia, algo antigo, que Pokémon já usava, mas continua interessante.
No início do jogo, você cria o personagem com um foco na narrativa. Então é uma escolha do tipo de andarilho e de que terra ele veio. Podendo iniciar em locais diferentes do mundo e então não tendo explicação alguma sobre o que exatamente fazer. É uma sensação meio semelhante à de Fallout 1, que você é jogado em um mundo sem ter informação alguma sobre ele.
Porém aqui a coisa pode dividir bem mais opiniões, já que para quem estiver em sintonia com a obra pode cair de amores imediatamente, sem pressa, sem medo. Você não vai ser atacado por monstros e por isso não precisa se preocupar em correr pra ficar forte. O que você precisa fazer é correr para explorar e aí sim ver o que rola.
É notável que a desenvolvedora Might and Delight bebeu da fonte de outro jogo seu, o maravilhoso Meadow, que é um jogo online onde você controla um animalzinho e encontra outros. Juntos vagam por um mundo onde se comunicam por símbolos e tentam descobrir o que é possível fazer. O trabalho em equipe é recompensado com a resolução dos puzzles ficando mais fáceis.
Mas assumo que eu esperava mais de Book of Travels. Eu pensava que ia me dar a mesma sensação gostosa que Meadow deu, porém achei meio sufocante e também muito lento o ritmo. Vi que não estou dentro do nicho que o jogo é foco. Por mais que eu entenda a proposta e saiba que dependendo do momento em que for jogar, posso achar apaixonante, sei bem que não é para a maioria dos momentos.
Se aqui existem muito mais coisas pra interagir, em Meadow eu sentia o toque de fofura tocar minha alma e como são animais, era natural não falarem. Já aqui, você pode conversar com NPCs, e a limitação da comunicação é só com humanos. Acho que isso quebra um pouco a proposta. Mas ao menos traz um ar de mistério, pois te permite entender o mundo.
Aliás, pra um jogo onde você não pode falar, texto é o que não falta. Pra começar na criação de personagem com o texto gigantesco descrevendo cada personagem, daí você pode falar com comerciantes e pessoas de vilas, o que aos poucos vai te dando noção sobre o universo do jogo, a cultura, a história.
Existe um sistema de escambo em que você pode pegar as coisas que acha e ir trocar, mas é surreal como os itens são tão mais caros que os seus. Então na maioria das vezes você só não pode fazer nada, pois é tudo caro demais para ser trocado. A experiência no jogo vem através da exploração, seja mexendo em plantas, pedras ou animais.
Enfim, Book of Travels é um daqueles jogos um tanto esquisitos, com uma proposta interessante, mas que realmente é para um público super específico. É uma clara evolução de algo que começou em Shelter, mas que não me deixou tão conectado. Recomendo sempre dar uma olhadinha no preço dele na Greenman Gaming antes de comprar na loja direta, algumas vezes os preços deles estão bem abaixo do normal, e sempre lembre de olhar os cupons de desconto que eles espalham pelo site, que deixa a coisa mais barata ainda, dê uma conferida aqui.
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