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[Conto] O Vendedor

No auge dos anos 90, eu com meus 17 anos estava quase saindo da escola e vivendo sempre a mesma rotina: 

Acordar, jogar super nintendo, assistir cavaleiros do zodíaco, ir pra escola com meu velho gameboy e meu fiel discman, voltar pra casa, dormir e começar tudo de novo, não me entenda errado, não estou reclamando eu gostava disso.
 
Porém um dia tudo mudou, já estava a altura de voltar pra casa quando uma garoa começou. Decidi que naquele dia iria andando, não morava tão longe da escola e simplesmente adorava o cheiro petrichor que viria em breve, estava na metade do caminho quando a vi... ela não era só linda, era perfeita em todos os sentidos, olhos castanhos, cabelo escuro, sentada em baixo de uma cobertura se protegendo da chuva, me aproveitei de estar encharcado e me aproximei com a desculpa de fugir das gotas cada vez mais grossas e geladas que me atingiam, puxei os assuntos mais genéricos possíveis mais quando percebi falávamos de coisas tão pessoais que nos faziam parecer conhecidos de uma vida inteira.
 
Nós já estávamos namorando quando ela me chamou para ir à uma dessas passeatas e aproveitar a situação para conhecer alguns de seus amigos, por mim eu jamais iria, mas nunca diria isso a ela, eu à acompanharia até o inferno se isso a fizesse feliz, visto o que ocorreu naquele dia o inferno teria sido até melhor.
 
Estávamos todos lá cara pintada, peito estufado e aquela bosta toda que nasce do cruzamento entre Woodstock e o esboço de uma revolução, porém como o merda sedentário que eu era acabei desmaiando, acordei em meio as risadas e a água que jogavam em meu rosto, quando fui recebido pelo sorriso dela só consegui perguntar se tinha morrido, foi o bastante para que o dia se tornasse o final de um episódio de F.r.i.e.n.d.s com uma maravilhosa risada em grupo ou teria sido se o tempo tivesse parado naquele exato instante, infelizmente não foi o que aconteceu, já estávamos voltando para casa quando aquele maldito bêbado a atropelou.
"Sinto muito garoto" - essas palavras vindas da boca daquele médico me destruíram e eu não ter ido no velório fez com que todos achassem que eu era um monstro, o tipo que só estava com ela pela beleza, ninguém entendia que eu jamais conseguiria me despedir porque ainda não havia aceitado que ela tinha partido.
 

A partir dai as coisas só pioraram, passava o dia em casa apenas encarando o teto obcecado por fazer o tempo voltar ou... ela voltar, o toque estridente da campainha me perturba, desço as escadas para abrir a porta e ver que havia um típico vendedor querendo me empurrar um livro sobre Fausto, pelo menos era o que eu achava até ele começar seu discurso:
-Não é magnífica a ideia de um pacto, seus desejos mais errados, egoístas e obscenos ao preço de uma alma, você pode pedir qualquer coisa por ela, riqueza, poder, uma aventura, talento para tocar Blues, A VOLTA DAQUELES QUE PARTIRAM.
Ao ouvir isso o ódio se apossa de mim e soco lhe a cara, ele cai, para se levantar dizendo com um sorriso:
 
-Como dizia... é uma pena que não exista um demônio disposto a dar tanto por algo que vocês entregam em uma bandeja de prata, porém existe um equivalente em nosso mundo.
Ele fica em silêncio olhando para mim, sabe que eu vou perguntar, mas antes que eu tenha a chance ele volta a falar:
-Como disse sou um vendedor, embora não seja o livro meu produto. Meu produto é na verdade um serviço, ao preço de metade da vida que lhe resta te concedo um desejo.
-E quem é você pra ter tal poder? - pergunto
-Um amigo - ele diz
-Então metade de minha vida e eu a verei de novo? - Não tenho nada a perder, ou ele é um maldito charlatão rindo de minha desgraça ou ele disse a verdade, penso comigo mesmo
-Te garanto que não sou um charlatão. Então, você vai contratar meus serviços?-C-omo... c-omo...
-Como eu vi o que você pensava? bom não vem ao caso, a questão agora é você vai contratar meus serviços?
-S-i-m eu preciso vê-la de novo - respondo em meio a gaguez causada pelo espanto.
-Foi um prazer negociar com você, dentro de uma hora você ouvira 3 batidas na porta de seu quarto, apenas abra e você vai vê-la novamente
 
Ele sumiu, não sei ao certo se ele disse a verdade. mas não levará muito tempo para eu descobrir, metade da vida que ainda tenho não é nada, mesmo que só me reste um dia, eu prefiro vê-la um dia do que passar a eternidade apegado a lembranças que nunca voltarão.
Toc, Toc, Toc, não acredito que estou realmente ouvindo as batidas corro até a porta do quarto e a abro chorando de alegria mal posso esperar para vê-la novamente... minha alegria se tornou um misto de tristeza e raiva.
 
...Não, o vendedor não mentiu eu realmente estou a vendo de novo, estou a vendo morta e com o corpo despedaçado exatamente como o carro a deixou.

Autor: Caio Zattar

Esse é um dos contos que concorreu no concurso de contos de terror do blog.

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4 Comentários

  1. Hahahahaha Esse Mefistófeles safado!!!
    Tem-se sempre que tomar cuidado com as palavras que se usa...

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  2. Nossa Caio...
    Eu não acho que o conto teve um fechamento interessante, mas eu gostei muito do modo em que você descreveu a perda do personagem. Realmente impactou no meu psicológico a forma como o protagonista perdeu a pessoa amada.
    Parabéns. Você construiu um background do personagem, fazendo com que o leitor (eu) se apegasse à ele, construiu um relacionamento dele com a garota, fazendo o leitor sentir essa mesma paixão que o protagonista. E descreveu perfeitamente a tristeza da perda, da forma mais trágica possível. Isso foi forte.

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  3. Muito obrigado a todos,
    E Matt o final realmente acho que poderia ter melhorado e fico feliz em saber que consegui aprofundar os personagens, principalmente porque essa versão foi muito resumida, mas é bom saber que só o final foi prejudicado.

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