Não é gostoso quando de repente encontramos algo que já parece legal, mas que ainda assim consegue surpreender? E no mundo do terror isso é realmente complicado, já que provavelmente é o gênero onde o clichê mora. Com tantas obras originais do Stephen King para serem copiadas, os caras continuam copiando o grupo de adolescentes e a casa com Satanás. E essa última opção é exatamente o que parecia ser "A Maldição da Residência Hill", mas que acabou me surpreendendo demais.
O negócio é... Apesar de tudo, quem me segue no Twitter, sabe o tanto de tosqueira que eu assisto. Uso filmes de terror como uma maneira de "meditar". A maioria é ruim que dói, previsível, atores bosta, fotografia e efeitos bizarríssimos e a história... Bom, parece que só muda a skin dos personagens, o cenário e fazem o mesmo filme com as mesmas situações. Por outro lado eu acredito que clichê pode ser bom se for bem conduzido, e vendo a fotografia maravilhosa de "A Maldição da Residência Hill", imaginei que poderia ser um ótimo passatempo.
E assim fui assistir, mas foi uma verdadeira surpresa. Isso porque eu esperava algo mais pro estilo American Horror Story, que tem sua qualidade, mas mantém a tosqueira presente. Então é aquele tipo de entretenimento que fica na divida entre o trash e o interessante. Não tentando ser puramente pesadão, mas usando suas fontes clichês de inspiração de uma maneira interessante. Mas aqui a coisa é diferente.
Surpreendentemente, "A Maldição da Residência Hill" se volta para o horror pesadão e mesmo com uma base manjada, que é a da casa mal assombrada, se mostrou uma bela de uma história interessante que prova que realmente é possível fazer clichês bons, dependendo mesmo de um bom roteirista e diretor. Uma série que constrói algo muito mais profundo, além de meramente repetir o que já vimos. A surpresa foi semelhante ao que tive com Channel Zero.
A história tem duas linhas temporais e a coisa já começa a ficar interessante aí, sendo que cada episódio é focado em um personagem, mostrando o seu passado e o presente. É algo meio semelhante ao que temos em It: Uma Obra Prima d o Medo, mas ao invés de mostrar primeiro tudo do passado e então todo o presente, aqui vemos no episódio um pedaço do passado e o que está acontecendo no presente. Ou seja, na medida em que a linha temporal do presente vai passando, novos detalhes do passado vão sendo revelados do ponto de vista do personagem daquele episódio.
O foco é na família Crain, que consiste no casal Hugh e Olívia e em seus cinco filhos, Shirley, Steven, Theodora, Luke e Nell. Em 1992 eles se mudaram para a mansão Hill e começaram a reformar ela, mas na medida em que os dias iam passando, coisas horríveis passavam a acontecer, até finalmente rolar uma tragédia que muda a vida de todos eles mais de duas décadas depois.
Algo curioso sobre essa série é que foi baseado no livro A assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson, lançado em 1959. E é claro que esse negócio de Hill (Colina) relacionado a uma casa assombrada me fez pensar em A Casa da Colina, mas foi só um pensamento vago. No entanto ao pesquisar, vi que realmente há um certo tipo de ligação, mas não é uma adaptação da mesma fonte.
O negócio é, "A Casa da Colina" foi lançado em 1999 e é um remake de um filme de 1959 chamado "A casa dos Maus Espíritos" (House on Haunted Hill), ou seja... O mesmo ano do livro da Shirley e ambos sobre uma casa assombrada e com "Hill" no nome, o que deve ter sido só coincidência. No entanto em 1999 também foi lançado A Casa Amaldiçoada (The Haunting), que é um remake de Desafio do Além de 1963, que por sua vez é uma adaptação do livro da Shirley.
Ou seja, duas obras com suas semelhanças e coincidências que acabam fazendo a coisa se misturar e confundir. Apesar de tudo, acredito que A Casa da Colina consiga ser mais famosa, ela inclusive quase foi uma DLC de Left 4 Dead 2, já pensaram que coisa louca? Porém é lógico que a Netflix fez com que a popularidade do livro aumentasse bastante com a qualidade da série que apresentou.
A forma que a coisa é conduzida é sem dúvidas o que mais atrai. Existe sim uma fotografia absurdamente elegante que dá aquele toque de suspense de alta qualidade, mas é a narrativa que acaba surpreendendo e prendendo. Essa ideia de mostrar cada personagem de uma maneira tão própria e como levou sua vida é magnífica.
O melhor de tudo é que não é como se tivessem se tornado um grupo de amigos que estão prontos para enfrentar novamente o mal. Cada um é apresentado em uma realidade completamente diferente. E algo bacana é que os produtores confirmaram que cada um representa uma fase do luto. Ou seja, tem a filha que superou completamente, o filho drogado, a filha assombrada pelo passado, a filha que quer distância das pessoas e assim vai.
No episódio do personagem, você tem uma visão de mundo bastante própria e acaba se sentindo imerso naquele ambiente, além de que estão todos ligados, então as visões diferentes geram conflitos com muito rancor. Por exemplo o filho que se aproveita do passado para escrever livros sobre o tema e ganhar muito dinheiro, enquanto uma que se tornou dona de um negócio de funerária, simplesmente não suporta a ideia do horror que passaram ser explorado por alguém de seu próprio sangue.
Também é maravilhoso ver as surpresas e reviravoltas, que são coisas que eu realmente não esperava em uma história sobre casa assombrada. Mas ainda assim colocam e na medida em que você vai assistindo, começa a gerar teorias sobre o que está acontecendo, o que certas coisas significam e inclusive tem detalhes com easter eggs que você provavelmente só vai descobrir mesmo se for pesquisar depois que assistir.
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