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Junji Ito | O mestre do horror e bizarrice em mangás

Atualmente existe uma quantidade enorme de mangás publicados no Brasil, e graças a isso é fácil achar otakus e pessoas familiares, no entanto mesmo com tantas opções e nomes, se você for perguntar alguém que está por dentro uma indicação do gênero terror, é quase certeza que a indicação será de um autor, Junji Ito. Isso porque as obras do cara são tão chocantes, que facilmente conseguem marcar com seu nível surreal de bizarrice e ideias perturbadoras.



Acho incrível como levei mais de uma década para finalmente escrever uma matéria dedicada a esse japa que gosto tanto. Eu já escrevi diversas postagens falando sobre obras dele ou coisas relacionadas a ele, mas um texto sobre o próprio, nunca. Inclusive a oitava postagem publicada aqui no Nerd Maldito já foi sobre uma obra dele. Ou seja, eu já comecei o blog  demonstrando minha empolgação. Mas essa demora aconteceu porque eu sabia que precisava da inspiração certa para falar de algo que gosto tanto. 

O que mais chama a atenção nas obras desse autor, é a bizarrice. Isso porque violência e bizarrice em animes e mangás é algo tão comum, que é fácil se ignorar as coisas mais horríveis. No entanto Junji Ito lega a coisa ao extremo e coloca situações tão perturbadoras, que é muito fácil ficar chocado com todo o horror.
Em outros tipos de mídia como o cinema, séries e animes é fácil apresentar o horror, criar um suspense em cima da coisa e então chocar com uma cena. Agora em um mangá, com imagens estáticas, esse é o desafio maior. Em Gantz e Berserk por exemplo é fácil devorar páginas e mais páginas de chacina sem ligar. Nas obras de Junji Ito, você frequentemente para pra contemplar o horror.

As imagens são repugnantes especialmente pelo uso frequente de horror corporal, portanto é bem comum os protagonistas de repente se verem em situações em que seus corpos sofrem transformações horrendas ou são submetidos a algo destrutivo que faz chocar rapidamente por fazer a pessoa pensar na possibilidade daquilo acontecendo com alguém ou com ela mesma.

São coisas doentias como um monte de globos oculares brotarem dentro da cabeça de uma pessoa e ela acabar rasgando, revelando-os, ou uma mãe cortar a própria barriga para enfiar de volta o bebê dentro e então costurar com pontos mal feitos e que dão um aspecto horrível. Essa ideia de algo fora do controle da pessoa é chocante.

O traço do autor é simplesmente maravilhoso e completamente a ver com sua proposta. Os personagens tem um toque gótico, são pálidos e com olheiras fundas. As expressões de horror são com certeza marcante. Realmente é muito lindo de se ver, pois em meio a um mar absurdo de traços tão padrões, você vê uma obra dele e facilmente reconhece seu toque tão próprio. E os elementos em geral são extremamente detalhados, o que te faz ver bem claramente as coisas horríveis.

O meu primeiro contato com Junji Ito foi completamente acidental, no começo da década de 2000 eu estava no clima de O Chamado e O grito. Essa foi a época em que o terror japonês se popularizou no ocidente e fez com que um amigo meu e eu começássemos a fuçar a internet atrás de tudo quanto era filme oriental. Assistimos uma penca de filmes horrorosos, outros assustadores, e no meio acabamos descobrindo o filme Uzumaki.

Ele acabou naturalmente se destacando por ter uma proposta muito grandiosa, exagerada e com belos efeitos especiais para a época. Enquanto a maioria dos filmes que assistimos se concentrava em maldições normalmente envolvendo uma única personagem, aqui a coisa era escandalosa, envolvendo toda a população de uma cidadezinha, que aos poucos vai começando a ficar paranoica com espirais.

Quando terminou, ficamos muito empolgados. Era um bagulho muito trash, mas daqueles que parecem ter sido feitos com uma energia tão grande e de forma tão assumidamente trash, que não vimos como ruim, mas sim como algo semelhante ao que obras como Evil Dead transmitiram. Era feio, tosco e podia até ser visto como ridículo. Mas foi transmitido de um jeito tão natural que acabou nos empolgando.

Algum tempo depois, em 2006 (Uhhh só um ano antes do blog começar), eu estava vagando por uma banca de revista, acabei vendo lá "Uzumaki", e obviamente tomei um susto, afinal de contas era "Aquele filme de terror lá!". Na hora fiquei até confuso, afinal de contas não imaginava que um filme de terror tinha mangá, e logo comprei.
A publicação foi feita pela editora Conrad e era um mangá dividido em três edições, sendo cara uma por R$12,00 que paguei com o maior prazer. E no fim das contas descobri uma obra robusta, realmente intensa e que foi uma verdadeira delícia, afinal de contas não era todo dia que se achava algo do gênero e depois que li o fenomenal O Vampiro que Ri, fiquei maravilhado demais para ler algo novo de terror.

Essa foi a minha primeira experiência com Junji Ito, e assim o autor acabou me marcando completamente. Depois fui descobrindo novas obras e cada vez mais me apaixonado pelo bizarro apresentado por ele e me tornando um fã da obra, que em sua maioria é composta por pequenos contos macabros.

Junji Ito nasceu na cidade de Gifu, em 1963 e desde criança, começou a ficar fascinado pelos desenhos de sua irmã mais velha, isso fez com que ele começasse a desenhar. No entanto sua principal fonte de inspiração inicial foi um tanto fora do comum, o mangaká Kazuo Umezu, especializado em mangás de terror.

Apesar de tudo, no começo os desenhos eram apenas para passar o tempo, não algo que pretendia levar como profissão. Na verdade sua especialização foi no no ramo odontológico, tanto que até os primeiros anos da década de 90 ele trabalhou como técnico em próteses dentárias. Construindo aparelhos e implantes prescritas por clínicos da área.

Mas ele não assumiu imediatamente o trabalho como mangaká assim que ganhou alguma notoriedade. Isso foi acontecendo aos poucos. Em 1987 resolveu enviar uma história para a revista Gekkan Halloween, que foi uma revista publicada mensalmente entre 1986 e 1995, especializada em histórias de terror. A história chamou a atenção e acabou sendo escolhida para ser publicada na revista.

A história participou de um concurso para ganhar o Kazuo Umezu Award, no entanto acabou perdendo, porém o próprio Kazuo Umezu gostou tanto que fez uma menção honrosa, indicando que ficou em segundo lugar. E ironicamente foi a própria fonte de inspiração de Junji Ito que acabou fazendo ele ganhar notoriedade.

Aquela pequena história tratava-se nada menos do que o início do bizarro mangá Tomie, que foi serializado a partir de 1989 e durou mais do que a própria revista, pois quando ela parou de ser publicada em 1995, Junji Ito levoua história para a revista Nemuki, com uma segunda série chamada Atarashī Tomie.

No fim das contas a publicação foi até o ano 2000. Em Tomie temos histórias que sempre envolvem de alguma forma uma garota misteriosa que encanta os homens com sua beleza, mas sempre algo amaldiçoado e bizarro acaba envolvendo todos aqueles que entram em contato com ela, fazendo com que morram ou a matem das formas mais horríveis, mas ela sempre acaba retornando ou se transformando em um ser asqueroso.

No total, as histórias acabaram gerando três volumes, mas mesmo antes de chegar ao fim da publicação, em 1998 o filme Tomie foi lançado, e à partir dali se iniciou uma série de filmes, que não foram muito populares fora do Japão, mas que atingiram bastante sucesso por lá, sendo assim esse mangá foi de onde mais rolaram adaptações. Um dos filmes originalmente foi publicado como mini-série, o Tomie: Another Face, que tinha três episódios de 20 a 25 minutos e foi lançada no fim de 1999.

Apesar de tudo, certamente o trabalho de Ito acabou sendo mais popular fora do Japão por outra obra, a Uzumaki, que tem suas semelhanças, mas ao invés de focar em uma personagem, tem foco em uma cidadezinha e em pessoas começam a ficar paranoicas pelos formatos de espirais, alguns amando tanto que tentam transformar os corpos em espirais, e outros com tanta repulsa que passam a arrancar digitais e qualquer outra parte do corpo que lembra espirais.

Porém Uzumaki não teve um sucesso tão grande quanto Tomie, mas ele também foi publicado em um espaço menor de tempo, entre 1998 e 1999 apenas, por outro lado muitos veem a história como muito mais robusta, já que foi o suficiente para gerar três volumes e embora também tenha contos, tem uma protagonista, o que dá a sensação de que é uma história maior e não várias pequenas como Tomie.

Mesmo com o pouco tempo de publicação, Uzumaki conseguiu um live action rapidamente que foi lançado em 2000 e dois jogos extremamente underground, o Uzumaki: Denshi Kaiki Hen e o Uzumaki: Noroi Simulation, ambos para o portátil da bandai WonderSwan, que só foi lançado no Japão, ou seja é tipo aquele cardgame do Berserk, não dá pra ter esperança de que vai aparecer por aqui.
Outro sucesso que se destacou já de cara pela ideia asquerosa foi o mangá Gyo, que veio em 2001 e foi publicado por apenas um ano, mas também gerou dois volumes robustos. A história é bastante perturbadora por apresentar uma ideia naturalmente horrível, peixes com patas de insetos, que passam sair do mar e andar pelas ruas, gerando uma podridão insuportável.

Mas além dos mangás destaque, uma quantidade gigantesca de histórias menores foram publicadas durante toda a carreira de mangaká de Junji Ito, algumas até que bem grandes, como por exemplo a adaptação de Frankenstein de 1994, que é uma baita de uma obra de arte e tem quase 200 páginas de muito horror bizarro.

Por mais incrível que pareça, o autor só conseguiu a sua primeira adaptação em anime no filme Gyo de 2012, que infelizmente é uma verdadeira tristeza, já que transformaram em uma comédia ao invés de usar o terror bizarro que todos os fãs estavam esperando tantos anos para ver como ficaria em forma animada. Já como série mesmo o autor só foi ganhar um anime com Junji Ito Collection em 2018.

Uma curiosidade é que seus elementos bizarros quase foram mostrados com força em Silent Hills, isso porque apesar de Hideo Kojima e Guillermo del Toro terem sido os dois grandes rostos que foram usados para promover o jogo cancelado da Konami, na produção também estava Junji Ito, que seria perfeito para mostrar situações asquerosas naquele universo.

Na internet o que mais popularizou o autor foi o pequeno conto Amigara Dansô no Kai, que lá por 2012 quando as creepypastas estavam em alta, alguém achou e tacou na internet dizendo que era o mangá mais perturbador de todos os tempos. Pessoas que não conheciam o autor foram ler e ao se deparar com tanta bizarrice passaram a concordar.

A verdade é que é uma obra padrão do Junji Ito, mas uma primeira olhada acaba fazendo facilmente alguém ficar chocado, portanto é fácil concordar que é "o mangá mais perturbador", mas ao se ver outros, acaba sendo apenas mais uma bizarrice entre tantas outras. Não demorou muito para se tornar normal de vez em quando surgir alguma pequena história dele na internet e viralizar em redes sociais.

Quando já era conhecido, o autor disse que além de sua inspiração inicial em Kazuo Umezu, seu trabalho também teve influências dos mangakás Hideshi Hino, Shinichi Koga e Yasutaka Tsutsui, além disso o autor norte americano H.P. Lovecraft também foi uma das suas principais fontes de inspiração.

Aliás, Junji Ito é declaradamente fã de Lovecraft, e você facilmente nota a semelhança de seu trabalho com os Mitos de Cthulhu, frequentemente apresentando uma força extremamente poderosa e fora do controle que acaba consumindo tudo. Esse tipo de ideia é facilmente visto nos seres antigos do autor americano, Ito inclusive já fez uma belísima homenagem a H.P. Lovecraft, desenhando um quadro com o autor.

E por falar em forças poderosas consumindo tudo, uma das críticas mais fortes dos haters de Junji Ito, são em relação à falta de explicação em muitas obras e também a frequentes personagens que não são desenvolvidos,sendo que o foco das histórias são muito mais o acontecimento bizarro do que os próprios personagens.
Em entrevista o mangaká já disse que as histórias deles são assim porque sua forma de elaborá-las não começa nos personagens, mas sim no evento, ele costuma pegar ideias bizarras, misturar e imaginar que coisa horrível sairia dali, e os personagens são colocados apenas para que uma história seja formada, e não para falar deles. Isso faz com que possam ser qualquer um, pois estão ali apenas porque foram os escolhidos para presenciar aquele horror.

Enfim, e esse é Junji Ito, o mestre do terror japonês. Aqueles que tem contato com a obra do autor costumam rapidamente amar ou odiar, pois o impacto é tão extremo que é bem fácil escolher um dos lados. No Brasil algumas obras do mangaká foram lançadas, sendo que a editora Dark Side se superou com o lançamento de luxo do mangá Fragmentos do Horror. Mas e vocês, o que acham do autor? Gostam? Odeiam? Tem alguma obra favorita?

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1 Comentários

  1. Junji Ito é o melhor no quesito terror! Ainda choro pq perdi meus mangás de Uzumaki quando me mudei :(

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